(...)
"Como chamar de outro modo aquilo horrível e cru, matéria prima e plasma seco, que ali estava, enquanto eu recuava para dentro de mim em náusea seca, eu caindo séculos e séculos dentro de uma lama - era lama, e nem sequer lama já seca mas lama ainda úmida e ainda viva, era uma lama onde se remexiam com lentidão insuportável as raízes de minha identidade.
Toma, toma tudo isso para ti, eu não quero ser uma pessoa viva! tenho nojo e maravilhamento por mim, lama grossa lentamente brotando.
Era isso - era isso então. É que eu olhara a barata viva e nela descobria a identidade de minha vida mais profunda.
Em derrocada difícil, abriam-se dentro de mim passagens duras e estreitas.
(...)
Para saber o que realmente eu tinha que esperar, teria eu antes que passar pela minha verdade? Até que ponto eu agora havia inventado um destino, vivendo no entanto subterraneamente de outro?"
*Trecho do Livro: A Paixão Segundo G.H. de Clarice Lispector)
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